
Essa é uma das perguntas mais comuns entre aqueles que se interessam pelo Espiritismo ou que começam a perceber alguma sensibilidade “diferente” em sua vida. Afinal, como saber se sou médium? O que é mediunidade e como ela se manifesta? Para responder a essas dúvidas, recorremos às obras fundamentais da Doutrina Espírita e à experiência daqueles que dedicaram sua vida ao estudo e à prática desse tema: Allan Kardec, Chico Xavier e Divaldo Franco.
Antes de saber se a pessoa é ou não médium, é preciso definir o que é ser médium? Allan Kardec nos ensina que mediunidade é a faculdade natural que permite a certas pessoas servirem de intermediárias entre o mundo espiritual e o mundo material. No “O livro dos médiuns”, Kardec afirma que “toda pessoa que sente, num grau qualquer, a influência dos espíritos é, por esse fato, médium.”
Assim, todos somos médiuns em potencial? Não exatamente. Kardec esclarece que essa sensibilidade é mais ou menos desenvolvida em uns do que em outros. Há quem tenha manifestações espontâneas, perceptíveis e frequentes. Nestes casos, reconhece-se o que chamamos de mediunidade ostensiva.
Também é importante saber: não há o sobrenatural, ou seja, a mediunidade não é algo sobrenatural e, sim, algo natural.
Segundo Kardec, existem muitos tipos de mediunidade, entre elas, intuitiva, auditiva, visual, psicografia, psicofonia e sensitiva (sensação de presenças). Por isso, os sinais podem variar muito de pessoa para pessoa. Alguns exemplos que surgem com frequência são pressentimentos constantes; sonhos muito vívidos com conteúdos espirituais; perceber ideias, ou vozes, que não parecem vir de si mesmo; intuições muito claras, especialmente em momentos importantes.
Se você percebe sinais frequentes, pode estar despertando sua faculdade mediúnica. No entanto, mais importante do que identificar a mediunidade é saber como lidar com ela. Kardec adverte com seriedade: “mediunidade não é doença, não é castigo e não é privilégio. É uma faculdade neutra, que deve ser educada e compreendida à luz do bem”.
Em uma de suas falas sobre o tema, Divaldo Franco, respeitado médium e divulgador da Doutrina Espírita, explica que a mediunidade se manifesta naturalmente, conforme a maturidade moral e psicológica do indivíduo. Ele alerta para a importância de não criar fantasias ou precipitações. Em suas palavras, ele alertava que “muitos dizem: eu sou médium! Mas ser médium não significa ouvir ou ver espíritos o tempo todo. Isso, normalmente, é desequilíbrio. A mediunidade é uma faculdade da alma, que surge como tarefa, não como espetáculo.”
Divaldo reforçava que a mediunidade, quando autêntica, deve ser educada e desenvolvida com responsabilidade, estudo sério e sempre voltada ao bem.
Chico Xavier, exemplo de médium que viveu a mediunidade com amor e renúncia, sempre destacou que o maior sinal de uma mediunidade saudável é a humildade e a disposição de servir. Ele nunca buscou os fenômenos, mas dedicou-se à prática constante do bem, da caridade e da disciplina.
Chico afirmava que “a mediunidade é como uma flor que Deus nos confia. Cabe a nós saber cultivá-la para que produza frutos de amor.”
Haroldo Dutra Dias, em uma de suas palestras, narra um episódio curioso e muito instrutivo da época em que Allan Kardec organizava suas reuniões mediúnicas. Durante uma dessas sessões, manifestou-se um espírito cantando como um pintassilgo. Intrigado, Kardec, sempre muito sério e metódico, questionou quem era aquela entidade.
O espírito, de forma zombeteira, respondeu que havia “sido um pintassilgo de verdade, que morava no quintal, cujo ninho fora destruído por um gato, e agora estava ali para contar sua tragédia”. Era claro para Kardec que se tratava de um espírito brincalhão ou perturbado. Encerrada a comunicação, Kardec, inconformado, questionou seu mentor espiritual, São Luís, sobre por que havia permitido aquele episódio dentro de um trabalho sério.
A resposta foi direta e profunda: “deixei acontecer para que você aprenda: não é porque um espírito se manifesta que você deve acreditar cegamente no que ele diz. O mundo espiritual reflete o nosso: lá também há enganadores, perturbados, mal-intencionados e brincalhões. É preciso muito cuidado.”
Esse ensinamento marcou Kardec, que mais tarde escreveria em “O livro dos médiuns” sobre os perigos da mediunidade mal conduzida e a necessidade do estudo sério, da disciplina e da vigilância constante.
Kardec concluiu que a mediunidade não deve ser praticada com leviandade, tampouco por curiosidade ou em busca de fenômenos vazios. Toda comunicação precisa passar pelo crivo da razão, da moral e do bom senso. O médium deve estar preparado para distinguir entre uma comunicação legítima e uma mistificação.
Em “O livro dos médiuns”, há uma seção específica dedicada aos perigos da mediunidade, alertando sobre espíritos mistificadores e zombeteiros; espíritos mal-intencionados que se fazem passar por outros; riscos psicológicos para médiuns despreparados e a influência das próprias emoções e desejos nas manifestações.
Inspirados por essa lição, deixamos alguns princípios seguros para quem suspeita ter sinais de mediunidade ou deseja desenvolver essa faculdade de forma equilibrada e saudável:
- Estudo contínuo: comece pelo “O livro dos médiuns”, aprofundando-se na teoria e nas classificações das faculdades mediúnicas.
- Discernimento e razão: nem toda comunicação espiritual é válida. Nem toda sensação é um “sinal”. A prudência é indispensável.
- Humildade e vigilância: a mediunidade não é espetáculo, nem privilégio. É ferramenta de serviço, que exige oração, equilíbrio emocional e moral.
- Ambiente seguro: jamais pratique mediunidade isoladamente ou por conta própria. Procure um centro espírita sério, com orientação e supervisão.
- Reforma íntima constante: mais do que fenômenos, a mediunidade exige do médium um compromisso com sua própria melhora moral e emocional.
Se você tem dúvidas sobre sua sensibilidade espiritual ou deseja entender melhor o tema, a Fundação Espírita Allan Kardec (FEAK) oferece espaços de estudo, acolhimento e esclarecimento, sempre à luz da obra de Allan Kardec e com a inspiração amorosa dos exemplos de Chico Xavier e Divaldo Franco. O desenvolvimento saudável da mediunidade é sempre um caminho de amor, responsabilidade e serenidade.